quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Espresso



(“Os Prédios do MEC” por André Mendonça, Centro, Rio de Janeiro, 2006)


Como faço todos os dias, saí do trabalho em direção ao Café e, sem perceber, me peguei a passos largos pela Rua da Imprensa.

Pensei comigo – Se não estou atrasada, por que a pressa? E mesmo sem uma boa resposta, percebi que a simples pergunta serviu para apaziguar o ritmo e sossegar os ânimos.

Fui sentindo o coração desacelerar e me dei conta de que estava em pleno jardim do Palácio Capanema, antiga sede do Ministério da Educação, meu canto favorito no Centro da cidade. Não sei bem por que. Ou talvez saiba: os pilotis extremamente altos, a ausência de paredes, os azulejos de Portinari, o vento que sopra o tempo todo, as lembranças dos movimentos estudantis da adolescência, sempre me fazem sentir tão pequena, tão alforriada, que só os que já se libertaram alguma vez podem entender do que estou falando. 

Olhei à minha volta e, para absoluta surpresa, percebi que naquela tarde ninguém mais corria pelas ruas. Ninguém bufava ou entristecia. A morena em seu uniforme cinza fazia confidências ao telefone. O senhor da banca de jornal quase perdia a cabeça ao apreciar a passagem da bela morena. Os ambulantes entoavam novas rimas para atrair a freguesia enquanto a polícia não vinha. As crianças em algazarra na primeira excursão escolar. Os automóveis em silêncio. Os semáforos todos verdes. Na porta do Café, minha amiga impressionada com a sublime desfaçatez do casal que se beijava ardorosamente em plena via pública. Tudo na mais perfeita harmonia.

Vamos ao espresso.


(Isabela Dantas por Milla Scramignon, Focaccia Café, Centro, Rio de Janeiro, 21.set.10)

Livraria da Travessa, Rua Sete de Setembro 54, sobreloja, Centro, Rio de Janeiro.
Café Florença espresso: R$ 2,80.
Tirado por Helaine:  creme espesso, cor homogênea caramelo-escuro, aroma e sabor intensos, como pede o figurino.
Padrão de qualidade Coluna Café: Delícia


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